Sunday, August 12, 2007

Entrevista com Freud








Construímos abaixo (eu e Sumaia) uma suposta “entrevista” com Freud no primeiro ano de graduação. Buscando nos seus textos, sobretudo Totem e Tabu, as possíveis respostas ipsis litteris. Queremos, ou melhor, já que estamos falando de Freud, desejamos elucidar os temas que consideramos mais importantes e esclarecer algumas idéias básicas.

Sigmund Freud, o senhor como pai da psicanálise, popularizou-se pelas suas idéias revolucionárias sobre o mecanismo psíquico, dividindo e ao mesmo tempo relacionando em dois processos: consciente e inconsciente. Sendo este último um dos motivos da polêmica da sua teori. Sem querer adentrar nas questões que movimenta esse mecanismo que seria a libido. Mas quero particularmente pergunta sobre a consciência. A consciência do tabu é a forma mais remota em que o fenômeno da consciência é encontrado?
– “Sim, porque o que é consciência? Segundo as provas da linguagem, ela está relacionada com aquilo de que se está ‘consciente com mais certeza’. Na verdade, em algumas línguas, as palavras para designar ‘consciência’ (no sentido moral, conscience, N. do Trad.) e ‘consciência’ (no sentido de percepção do que se passa em nós ou ao redor de nós, consciousness, N.do Trad.) mal podem ser distinguidas. A consciência (conscience, N. do Trad.) é a percepção interna da rejeição de um determinado desejo a influir dentro de nós. A ênfase, contudo, é dada ao fato de esta rejeição não precisar apelar para nada mais em busca de apoio, de achar-se inteiramente ‘certa de si própria’. Isto é ainda mais claro no caso da consciência de culpa – a percepção da condenação interna de um ato pelo qual realizamos um determinado desejo. Apresentar qualquer razão para isto pareceria supérfluo: quem quer que tenha uma consciência deve sentir dentro de si a justificação pela condenação, sentir a autocensura pelo ato que foi realizado. Essa mesma característica pode ser observada na atitude do selvagem para com o tabu. Trata-se de uma ordem emitida pela consciência ; qualquer violação dela produz um temível senso de culpa que vem como coisa natural e do qual a origem é desconhecida.”
Então cada um, pelo que eu entendo, tem sua prórpia lógica interna para admitir a culpa. Mas a consciência de culpa tem uma justificativa ?
– “Tem uma justificativa se levarmos em consideração os pensamentos inconscientes e não os atos intencionais.”
Trazendo essas idéias para contemporaneidade, como a consciência de culpa se manisfesta nos pacientes neuróticos ?
– “Vê-se que a onipotência de pensamento, a supervalorização dos processos mentais em comparação com a realidade, desempenha um papel irrestrito na vida emocional dos pacientes neuróticos e em tudo que dela se deriva. Se um deles submeter-se ao tratamento psicanalítico, que torna consciente o que nele era inconsciente, será incapaz de acreditar que os pensamentos são livres e constantemente terá medo de expressar desejos malignos, como se sua expressão conduzisse inevitavelmente à sua realização.”
Então poderíamos dizer que o desejo se manisfesta na construção do aparelho psíquico?
– “Todo e qualquer ato psíquico é a expressão final da realização do desejo.“
A ambivalência parece ser um ato recorrente nos impulsos psíquicos, segundo a leitura que nós fazemos do seu material, o Senhor, até mesmo considerou que “os impulsos dos povos primitivos fossem caracterizados por uma quantidade maior de ambivalência que a que se pode encontrar no homem moderno”. A pergunta se dirige na relação entre ambivalência e consciência de culpa, tanto no tabu como na neurose obsessiva ?
“Dessa maneira parece provável que também a consciência tenha surgido, numa base de ambivalência emocional, de relações humanas bastante especifícas, às quais essa ambivalência estava ligada e que surgiu sob as condições que demonstramos se aplicarem ao caso do tabu e da neurose obsessiva, a saber: que um dos sentimentos opostos envolvidos seja inconsciente e mantido sob pressão pela dominação compulsiva do outro. Esta conclusão é apoiada por várias coisas que aprendemos da análise das neuroses.”
O Senhor disse a pouco instante que o desejo é representado por qualquer ato psíquico, nesse caso, o sonho é comparado ao pensamento no sentido de que ambos constituem representações?
“Fecham-se os olhos e se alucina, abrem-se e se pensa em palavras.” (risos)
Os primitivos desenvolveram um sistema, o qual no seu próprio texto denomina de animista, cujo seres espirituais são atribuidos a todos os seres animados e inanimados, e como técnica de controle utilizaram a magia e a feitiçaria. Qual a relação que podemos fazer com o desejo, já que todo ato psíquico é a expressão final da realização de um desejo? Comente também da possível relação com o comportamnto infantil.
“Não é de se supor que os homens foram inspirados a criar seu primeiro sistema do universo por pura curiosidade especulativa. A necessidade prática de controlar o mundo que os rodeava deve ter desempenhado seu papel. Assim, não ficamos suspresos em descobrir que, de mãos dadas com o sistema animista, existia um conjunto de instruções a respeito de como obter domínio sobre os homens, os animais e as coisas – ou melhor, sobre os seus espíritos. É fácil perceber os motivos que conduziram os homens a praticar a magia: são os desejos humanos. Tudo o que precisamos admitir é que o homem primitivo tinha uma crença imensa no poder de seus desejos. A razão básica por que o que ele começa a fazer por meios mágicos vem acontecer é, em última análise, simplesmente que o deseja. De início portanto, a ênfase é colocada apenas no seu desejo.
As crianças se encontram numa situação psíquica análoga, embora sua eficiência motora não esteja ainda desenvolvida. Já expus em outra oportunidade a hipótese de que, primeiramente, elas satisfazem seu desejo de maneira alucinatória, isto é, criam uma situação satisfatória por meio de excitações centrífugas dos órgãos sensoriais. Um homem adulto primitivo tem à sua disposição um método alternativo. Seus desejos são acompanhados de um impulso motor, a vontade, que está destinado, mais tarde, a alterar toda a face da terra para satisfazer seus desejos.”
Menenes, no livro Fábrica de Deuses, realiza uma leitura do seu texto Totem e Tabu e constata, na palavra do autor, o seguinte: “...o totem não possibilita um registro relevante, a nível psíquico, das experiências nas quais a sua presença se verifica. É como se Freud estivesse dizendo que sem o totem, o mesmo conjunto de representações estaria registrado. Em outros termos: ele seria prescindível nas vivências humanas”. Continua a ele a se questionar: “ Em que sentido o tabu teria primazia em relação ao totem, se é que tem? Estaria Freud sendo arbitrário no tratamento dos dois fenômenos culturais?”. Como o senhor aborda essas questões no seu livro para provocar tantos questionamentos?
“Ver-se-á que os dois principais temas dos quais o título deste livro se origina – os totens e os tabus – não receberam o mesmo tratamento. A análise dos tabus é apresentado como um esforço seguro e exaustivo para a solução do problema. A investigação sobre o totemismo não faz mais que declarar que ‘isso é o que a pscinálise pode, no momento, oferecer para a elucidação do problema totem’. A diferença está ligada ao fato de que os tabus ainda existem entre nós. Embora expressos sob uma forma negativa e dirigidos a um outro objeto, não diferem, em sua natureza psicológica, do ‘imprativo categórico’ de Kant, que opera de uma maneira compulsiva e rejeita quaisquer motivos conscientes. O totemismo, pelo contrário, é algo estranho aos nossos sentimentos contemporâneos -–uma instrução social-religiosa que foi há muito tempo relegada como realidade e substituída por formas mais novas. Deixou atrás de si apenas levíssimos vestígios nas religiões, maneiras e costumes dos povos civilizados da atualidade. Os progressos sociais e técnicos da história humana afetaram os tabus muito menos que os totens.”
Menezes, o autor citado do Fábrica de Deuses, lançou a seguinte pergunta para um grupo de estudantes: O que o desjo individual possue de tão forte para receber um proibição tão severa? Repasso essa pergunta para o Senhor.
“Os dois tabus do totemismo com que a moralidade humana teve o seu começo não estão psicologicamente no memso nível. O primeiro deles, a lei que protege o animal totêmico, fundamenta-se inteiramente em motivos emocionais: o pai fora realmente eliminado e, em nenhum sentido real, o ato podia ser desfeito. Mas a Segunda norma, a proibição do incesto, tem também uma poderosa base prática. Os desejos sexuais (individuais, sobretudo) não unem os homens, mas os dividem. Embora os irmãos se tivessem reunindo em grupo para derrotar o pai, todos eram rivais uns dos outros em realação às mulheres. Cada um quereria, como o pai, ter todas as mulheres para si. A nova organização terminaria numa luta de todos contra todos, pois nenhum deles tinha força tão predominante a ponto de ser capaz de assumir o lugar do pai com êxito. Assim, os irmãos não tiveram outra alternativa, se queriam viver juntos – talvez somente depois de terem passado por muitas crises perigosas - , do que instituir lei contra o incesto, pelo qual todos, de igual modo, renunciavam as mulheres que desejavam e que tinham sido o motivo principal para se livrarem do pai. Dessa maneira, salvaram a organização que os tornara fortes – e que pode ter-se baseado em sentimentos e atos homossexuais, originados durante o período da expulsão da horda.” (grifo nosso)
Agradeço sua paciência para conosco. Sei que muitas perguntas ainda faltam para ser respondidas e perguntadas. Solicitamos aos leitores desta entrevista que recorram ao livro do estimado entrevistado para possíveis e recorrentes dúvidas.

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