Sunday, August 12, 2007

do corpo físico ao corpo moral - Rousseau

Emílio ou da Educação
Ensaio do corpo físico ao corpo moral.
Livro I
Rousseau expõe que a entrada do homem na sociedade, ou se afastar do estado da natureza, sem uma proposta educativa é lançá-lo a própria sorte. A sociedade teria um aspecto antropofágico, “as instituições sociais em que estamos submersos abafariam nele a natureza, e nada poriam em seu lugar” (Livro I, p.7), que estaria mais de acordo aos interesses pessoais do que aos coletivos. Torna-se claro desde o início uma crítica a inserção do homem na sociedade e uma proposta de educação com alvo na criança, mas almejando acertar o homem e o cidadão – “Tudo o que não temos ao nascer e de que precisamos quando grandes nos é dado pela educação”(I, p.9).
A sociedade no pensamento de Rousseau é levada despida da sua arrogância até ao homem, e nada mais é do que uma criação do homem, e a este deve os acertos e erros; de tanto olhar aquele corpo nu, percebemos o que estava diante de nós foi um espelho. A sociedade, assim vista por Rousseau, não é um elemento, uma coisa ou uma personificação em disputa com o homem; empenha-se o filósofo em demarcar a condição social intrinsecamente presa à condição humana. E para isso ele vai à molécula originária deste corpo social: a criança.
Se em Emílio pretende-se uma utopia, acaba por enfatizar o quão difícil é educar uma criança no sentido de ser dona de si. Não há ingenuidade no pensamento de Rousseau, coloca com muita clareza os percalços da educação e declara – “Tudo o que podemos fazer à custa de esforços é nos aproximar mais ou menos do alvo, mas é preciso sorte para atingi-lo” (I, p.9). Desta forma, há três tipos de educação, da natureza ou dos homens ou das coisas. A educação da natureza é o desenvolvimento interno de nossas faculdades e de nossos órgãos, que segundo Rousseau, não depende de nós. A dos homens o uso que nos ensinam a fazer desse desenvolvimento, a única que somos senhores. A das coisas, aquisição de nossa própria experiência sobre os objetos que nos afetam, depende de nós em alguns aspectos.
O alvo a que se refere Rousseau é o mesmo da natureza, e a qual deve se dirigir as outras duas. Quanto mais afasta os homens dos hábitos sociais, mas descobre em sua essência e unidade. As instituições sociais fragmentam este homem, e o transferem para uma unidade comum, ele se percebe agora como parte de uma unidade. O que Rousseau coloca em questão é o sentido da subjetividade, do eu tão presente no estado de natureza, e agora imperceptível agora no corpo social. Mais uma crítica as formas de relações sociais que descaracterizam o indivíduo a favor do coletivo. É revelada a problemática entre educar um homem ou um cidadão, aparentemente em plena oposição. Se a essência, o homem absoluto encontrava-se na natureza, este se perdeu na ordem civil, não há espaço para os dois. Quem assim insistir, não será nada. Rousseau expõe que o caminha da educação proposta não será social, o seu ensino estará preparando para a vida humana. Qualquer cargo social aos olhos de Emílio seria ocupado sem distinção, preconceitos ou hierarquias, nota-se que a educação que se pretende independe da condição ou status social, dando-lhe um caráter universal, e optando por uma das oposições, é preciso educar o homem antes do cidadão. “Viver é ofício que quero ensinar-lhe (...) Ao sair de minhas mãos, concordo que não será nem magistrado, nem soldado, nem padre; será homem, em primeiro lugar.” (I, p.15). E qual o intento destes esforços, se a sociedade mudasse, não mudasse o homem junto, ou suas disposições naturais do bom e justo. Rousseau é um grande defensor da moral diante dos vícios éticos e um dos primeiros pensadores a entender que educação se dá mais pelo exercício do que pelas teorias.
Contrário do que possa se imaginar a busca desde homem em si, não é uma educação egoísta, fechada e impenetrável ao mundo. Porém, preparar esta criança para as adversidades da vida, para “as mobilidades das coisas humanas”, e não como se nunca tivesse de sair do seu quarto, diz Rousseau (I, p.16). Ou seja, o fim último da educação do homem serão o cidadão. Para isso, é preciso ensiná-lo a se conservar enquanto homem, e tomar o sentimento de existência: agindo, fazendo uso dos seus órgãos, sentidos e faculdades. Este sentimento se perdeu na sociedade pois impede o homem de expressão, de mobilidade, de opinião, e isto é expresso de forma muita poética, na criança que ao nascer é envolta em panos e bandagens, “não lhe permitem mudar de opinião” (I,.p.17). De forma extremamente habilidosa Rousseau expressa os componentes filosóficos e educativos ao mesmo tempo; a crítica a sociedade no processo de desnaturação e perda de subjetividade e um novo modelo tendo como guia o natural, e o primeiro estágio de aplicação do seu método, passa pelo corpo, este que está em contato com a natureza, os órgãos, os sentidos.
O corpo que entra em contato com os objetos, e ele que se exercita no mundo. Impedir o desenvolvimento natural do corpo,é impedir o desenvolvimetno natural do homem. Rousseau mostra-se espetacular ao demonstrar que é sobre o corpo que recai os primeiros moldes da educação social, que para perspectiva do filósofo basta retirar os obstáculos que o impede desenvolver e entregá-lo ao maior de todos os mestres – a natureza.

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